sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A Jardineira e o Estrangeiro

 



A Jardineira acreditava na bondade humana, até que um dia conheceu o mal e se encerrou no claustro de seu jardim iluminado.
Os portões ficavam devidamente trancados e seu jardim permanecia à salvo das crueldades do mundo.
Nem dor, nem felicidade, um mundo ideal, claro, exato, óbvio.
Mas o Estrangeiro chegou com lágrimas nos olhos e a compaixão tomou lugar no coração da Jardineira.
Os portões foram abertos e o Estrangeiro abrigou-se.
O Estrangeiro cativou o coração solitário e fecundo da Jardineira. Prometeu ajudá-la na ampliação de seu amado jardim.
E a Jardineira confiou seu jardim ao Estrangeiro. A promessa de um futuro promissor de felicidade sem fim embalou os sonhos daquele coração solitário.
E, antes que pudesse perceber, de um momento para o outro, as roseiras jaziam destruídas no solo pedregoso. Os jasmins ainda exalavam um perfume cálido e doce, mas nos extertores de sua delicada existência. E as hortênsias, esferas de luz matutina, pendiam esmigalhadas por mãos vorazes e cruéis.
A Jardineira não se conformava. Como pudera abrir os portões, antes cuidadosamente fechados e vigiados?
A promessa de uma felicidade suprema foi a causa de sua ruína. Por que não se contentara com o que tinha? Por que desejou mais do que poderia ter?
Os dias passaram e a Jardineira permaneceu prostrada em meio às pedras do jardim desnudo. Sentia-se infeliz e incapaz de recomeçar.
Num determinado momento daqueles dias infindáveis, notou nos primeiros raios da manhã que da terra pedregosa surgia a vida novamente. O caule carcomido da roseira sinalizava que nem tudo estava acabado.
Uma luz divina reaqueceu o coração gelado da Jardineira. Havia uma esperança para o seu adorado jardim.
A Jardineira respirou fundo e começou a trabalhar na terra. Recuperou mudas e as replantou. Começaria tudo de novo, agora mais precavida. Orando e vigiando sempre, com fé na Providência, acreditou novamente, mas de agora em diante não permitiria que a compaixão obscurecesse sua razão, nem que seus desejos pessoais sobrepujassem as necessidades daqueles que amava.

San Yorke

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