domingo, 8 de fevereiro de 2009



Ontem assisti ao filme O Leitor (The Reader, 2008). Este acumula cinco indicações ao Oscar - Melhor Roteiro Adaptado (David Hare), Melhor Fotografia (Chris Menges, Roger Deakins), Melhor Atriz (Kate Winslet), Melhor Diretor (Stephen Daldry) e Melhor Filme.

Inspirado no romance homônimo, de Bernhard Schlink, o longa-metragem começa na Alemanha em reconstrução do pós-guerra. Michael Berg (David Kross) é um jovem de 15 anos que no caminho para casa passa mal e é ajudado por uma mulher, Hanna (Kate Winslett). No fim do seu período de convalescência, ele volta à casa dela para agradecer e os dois acabam juntos, na cama. O romance dura o verão e, sempre muito reclusa e até mesmo dura, Hanna só lhe pede uma coisa antes do sexo, que ele leia para ela. Daí o título do livro e do filme.

Quando - sem avisar - ela some sem deixar pistas, o garoto sofre e amadurece. Passam-se os anos e agora ele é um estudante de direito. Orientado por um dos seus professores ele e seus colegas vão acompanhar o processo de ex-oficiais da SS que estão sendo julgadas pela morte de prisioneiras judias. E sentimentos que ele achava que estavam no passado voltam para lhe assombrar.

Porém, mais do que o romance entre os dois, a obra tenta mostrar ao público o que foi ter nascido na Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial, todas as discussões éticas que vêm dessa época e os traumas também. No caso da nossa história, a questão é: Michael deve intervir no caso e depor a favor de Hanna? Mas há ainda outra questão: ficar quieto durante o julgamento não é ser tão conivente como foram os alemães que sabiam o que era a fumaça preta que saía dos campos de concentração e nada faziam?

FONTE: http://www.omelete.com.br/cine/100017909.aspx


E o que eu achei do filme? Lindo, apaixonante, verdadeiro. Sempre fui aficcionada por histórias do holocausto, as dores, os terrores da guerra. Só por ser um filme que retrata aquele período da história moderna, já estaria lá no cinema. O fato de rever Kate Winslet, também seria uma boa desculpa. Já Ralph Fiennes, um dos meus atores prediletos, também me chamaria às salas escuras. Mas, quando li uma resenha falando do romance entre um garoto de 15 anos com uma mulher 20 anos mais velha, fiquei curiosa para saber até que ponto este relacionamento resistiria. E qual não foi minha surpresa, quando descobri que o amor pode ser para sempre, mesmo que nunca realizado em sua totalidade. E a falta dele pode deixar cicatrizes imensas, como deixou no jovem Michael. O primeiro amor realizado em sua plenitude o marcou por toda uma vida, tornando-o estéril para outros relacionamentos, infeliz e insatisfeito. Aquela mulher o havia marcado de tal forma que lhe era impossível viver sua própria e particular história de vida.
Até que ponto nos deixamos impressionar pelas experiências que vivemos, ou deixamos de viver? O que seria permitido e o que seria proibitivo? O amor é sempre possível? Sem limites?
Tenho uma série de questionamentos mas,acredito firmemente que o amor, quando real e verdadeiro, pode romper barreiras que nos pareçam intransponíveis. A diferença de idade é um ponto nevrálgico neste tipo de relacionamento. As vivências de cada um podem tornar impossível a realização do amor em sua plenitude. Mas, pode também tornar a relação mais rica, havendo uma troca de experiências que não seria possível entre pessoas que viveram na mesma época experiências semelhantes. Tudo depende dos dois seres humanos envolvidos e da vontade de continuarem este relacionamento.
Saí do cinema com uma convicção. O amor sempre pode existir, mas temos que ser corajosos para assumi-lo.
Quanto ao holocausto, nada pode me surpreender mais. Foram tantas as histórias contadas sobre aquele episódio histórico que não existem mais novidades. Não fiquei surpresa também com o fato de Hanna ser uma mulher capaz de amar e de odiar. Isto é normal em todo ser humano. Como alguém que amava a literatura (mesmo sendo incapaz de ler) poderia levar tantas outras mulheres à morte nos campos de extermínio? O mesmo eu diria do próprio Hitler, um homem sensível para as artes e os animais.
A resposta??? O ser humano é um complexo de identidades que convivem de uma forma ou de outra. Se para nós estas peculiaridades da personalidade nos parecem díspares, temos que fazer uma auto-análise. Somos todos partes de um todo particular. Temos em nós frações de nós mesmos que unidas formam nossa personalidade, mas que observadas separadamente, podem parecer absurdamente diferentes.
Portanto, não nos cabe julgar ninguém nem uma época de horror vivido por esta humanidade. A justiça foi e continua a ser feita.