sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Ler as primeiras linhas deste livro foi como adentrar um quarto escuro da minha inconsciência. Penetrar nos lúgubres meandros de mim mesma. Reconhecer em mim o que era desconhecido. E a cada carta que leio, penetro em minhas imperfeições disfarçadas e vislumbro uma luz que se liberta naquele cubículo de trevas, trazendo imagens de mim mesma refletidas nas paredes desnudas que me cercam. Naquele diálogo entre os dois filósofos percebo que a minha própria alma se revela e se liberta do monturo de suas ilusões. Mais uma luz se acende e não consigo encontrar de onde vem só sei que ilumina e aquece aquele quarto sombrio.
E a cada linha que leio, é como se um véu caísse à minha frente e trouxesse o reflexo de mim mesma naquelas palavras. E mais uma luz se acende. Nas imperfeições, dúvidas, angústias, alegrias e amores daqueles autores percebo que a sala não está mais vazia. Vultos se revelam no brilho das luzes que se avizinham. Não estou sozinha. E as cartas são trocadas sucessivamente. Os dois homens mostram suas fraquezas, suas certezas, suas dores, suas paixões. E outras luzes se acendem. E percebo que aquele quarto pequeno, antes vazio, escuro e frio, torna-se amplo, iluminado, quente e ocupado por dezenas de milhares de vultos silenciosos. Conforme as luzes se acendem, os seres tomam consciência uns dos outros, e compreendem que não estão sós em sua solidão.
E percebo a origem das luzes. Do peito de cada vulto, uma chama nasce e cresce. A cada palavra que dilacera, que esclarece, que compreende, a luz daquela chama cresce. E, ao atentar para cada ser vejo um pouco de mim mesma. Ali estou eu em milhares de pedaços dispersos que buscam uma unidade. E aquela chama que cresce em meu peito, na figura de cada um daqueles estranhos vultos torna-se una. Até que a sala transforma-se num imenso espaço cheio de luz e esperança e tomo consciência de mim naqueles seres dispersos. Num segundo somos um, uma única chama, um único coração batendo em uníssono.