sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A PARTIDA





Demorei para escrever algo sobre este filme, mas há sempre tempo para isso.
A Partida (Okuribito, 2008) foi lançado em 2008 e ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009. Aqui no Brasil estreou em 5 de junho de 2009.
Direção: Yojiro Takita
Roteiro: Kindo Koyama
Elenco: Masahiro Motoki, Tsutomu Yamazaki, Ryoko Hirosue, Kazuko Yoshiyuki

Conta a estória de Daigo (Masahiro Motoki), um violoncelista que perde o emprego numa orquestra de Tóquio e decide voltar para o interior, ao lado da esposa, para a cidade onde cresceu. Lá, arruma um emprego que atrai o preconceito de muita gente: Daigo é encarregado de preparar os mortos para seus funerais.
Não é um processo químico como conhecemos. No Japão secular o trabalho de Daigo é como um ritual de higienizar, maquiar e vestir os corpos, diante da própria família em luto, de uma forma extremamente digna, cobrindo as partes íntimas do morto, para que não haja exposição de seu corpo.
O diretor Yôjirô Takita e o roteirista Kundo Koyama acertam no tom com que tratam da vida do jovem em conflito com perdas do seu passado, um órfão que perdeu a oportunidade de velar os seus e de repente aprende a velar os dos outros.
É um filme onde você ri das trapalhadas de Daigo, de sua inabilidade com os detalhes. Acompanha a evolução dele em seu trabalho, o aprendizado com o chefe na arte do trato com os mortos, tornando-se um hábil profissional.
Também nos mostra o preconceito que este tipo de profissional sofre, sendo que Daigo omitiu até de sua mulher o que fazia em seu emprego, como se fosse algo indigno e vergonhoso.
A cena final é muito linda, quando há o reconhecimento daquele trabalho digno.
Outro aspecto muito emocionante foi a tocante estória do abandono paterno. Daigo carregava a mágoa por ter sido abandonado pelo pai quando era menino.
Até neste aspecto o filme nos faz refletir sobre este tipo de drama. Os erros cometidos no passado nos tornam prisioneiros deles. A vergonha em admitir o erro, em pedir perdão impedem que as pessoas mudem o rumo de suas vidas.
No filme há também o exemplo de uma mulher, funcionária da funerária, que havia abandonado a família por uma  paixão que revelou-se infrutífera. A vergonha a impediu de procurar o filho. Vivia sozinha e amargurada.
Não sei ao certo o que me impediu de escrever antes algo sobre este filme. O impacto sobre mim foi grande, talvez por ter sentido certa identidade por Daigo, mesmo não tendo tido as mesmas experiências que ele. Algo me tocou, a dignidade daquela profissão, a vergonha, a ilusão e principalmente o estilo de vida japonês que me encanta.
Para quem não viu ainda está em cartaz e vale à pena.

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